Chullos peruanos
Chullos peruanos
Os chullos peruanos, também conhecidos como chullos andinos, são emblemáticos das regiões montanhosas do Peru e de outras áreas andinas da América do Sul.
Os chullos peruanos são caracterizados por seus designs únicos e marcantes, frequentemente incorporando padrões geométricos, símbolos culturais e cores vibrantes. São tecidos à mão com lã de alpaca, ovelha ou outra fibra natural, tornando-os quentes e adequados para o clima frio das terras altas andinas.
Uma das características mais marcantes dos chullos é a presença de “protetores de orelha”, ou abas que descem pelas laterais do chapéu. Alguns chullos também apresentam cordões trançados ou pompons na parte superior, adicionando um toque de estilo e tradição.
Os chullos não apenas têm uma função prática, mantendo quem os usa aquecido, mas também são um importante símbolo cultural que reflete a identidade e a herança andinas. São frequentemente usados em celebrações, festividades e eventos tradicionais, e são um testemunho do rico artesanato e da conexão com a natureza que caracterizam as comunidades andinas.
Origem
Embora o chullo peruano seja atualmente apreciado e valorizado como uma genuína expressão artística do país, o historiador Luis Repetto ressalta que houve um forte preconceito contra ele devido às suas origens andinas. No entanto, Repetto também esclarece que, embora a vestimenta tenha sido concebida nas montanhas, sua origem está enraizada na tradição espanhola.
“Podemos então afirmar que tem origem mestiça e que a principal contribuição do Peru foram os protetores de orelhas. Além disso, em nossa história pré-incaica, existem outros adornos de cabeça, como o gorro Huari de quatro pontas”, acrescenta.
Chullos na Idade Média
No entanto, alguns argumentam que o chullo é um tipo de vestimenta sincrética, resultado da adaptação da crespina medieval importada durante o Vice-Reino do Peru, como parte da imposição de trajes europeus aos nativos andinos após a rebelião de Túpac Amaru II em 1780.
Embora alguns antropólogos e historiadores afirmem que o chullo é um produto mestiço derivado da mistura de diversas influências, como o gorro de quatro pontas de La Huari, o birrete espanhol e a crespina medieval (trazida pelos espanhóis), outros rejeitam essa versão e sustentam que sua origem é puramente pré-hispânica, como afirma o antropólogo Leônidas Casas Ballón.
Muito antes da chegada dos espanhóis ao nosso território, o uso do véu tinha um significado muito especial na linguagem visual do mundo andino. Essas vestimentas serviam para identificar a posição social, a classe social e até mesmo o grupo étnico ao qual quem o usava pertencia.
O chullo é o ápice de um longo processo de conhecimento e técnicas tradicionais. Desde os tempos pré-hispânicos, o adorno de cabeça faz parte da linguagem visual do mundo andino. Esses elementos comunicavam imediatamente a identidade e a etnia de quem o usava, além de proteger a parte do corpo mais próxima das divindades.
Dada a extrema diversidade climática dos Andes, proteger a cabeça era essencial. Os primeiros peruanos utilizavam uma variedade de materiais, como peles de pequenos animais, folhas e até mesmo gramíneas. Com o início das rotas comerciais, a fina fibra andina tornou-se disponível.
Produção
Diferentes materiais, como madeira, penas e metais, foram utilizados na criação desses toques, aplicando-se uma variedade de técnicas. Rosie Barnes, que expôs parte de sua coleção de chullos na exposição “O Chullo: Emblema do Peru”, inaugurada no Museu de Artes e Tradições Populares do Instituto Riva-Agüero (PUCP) em setembro de 2016, afirma que os espanhóis introduziram três novas técnicas: crochê, renda natural e o “palito” (vara) ou agulhas, que eram usadas para tecer chullos. Os primeiros vestígios da técnica de tecelagem “palito” no Peru foram encontrados por volta de 1578 na cidade colonial de Magdalena de Cao Viejo, perto de Trujillo.
Mudanças culturais drásticas impostas pelos espanhóis ocorreram posteriormente, as quais se refletiram nas expressões culturais da classe trabalhadora, incluindo o uso de ornamentos em suas vestimentas.
Embora seja difícil determinar quando os chullos começaram a ser tecidos no Peru, Rosie Barnes afirma que provavelmente não foi muito tempo depois da introdução das meias em novos territórios, já que ambas são tecidas em forma de tubo que se alonga.
O chullo, portanto, poderia ser considerado uma vestimenta mestiça originária do período colonial, à qual foram adicionados protetores de orelha e coloridos desenhos andinos. Um processo semelhante ocorreu com a criação do charango ou cajón peruano, que agora fazem parte do nosso patrimônio nacional.
O chullo é uma vestimenta tecida em vários formatos e tamanhos, com desenhos que refletem a imaginação de seus criadores e simbolizam sua identidade.
História
O chullo, quente e colorido, com suas clássicas orelheiras de lã, agora desfilando nas principais passarelas do mundo, transcendeu seu papel de simples vestimenta para combater o frio. Evoluiu para se tornar um símbolo representativo da nossa terra natal e dos Andes.
O chullo (termo aimará e quéchua: ch’ullu) é um gorro de malha com orelheiras, feito de lã de alpaca ou outros tipos de lã combinada com fibras sintéticas. Originou-se no planalto andino do Peru e é usado para proteção contra o frio intenso da Puna. Sua presença também se estende ao Chile, Bolívia, Argentina e Equador. No Peru, caracteriza-se por sua variedade de cores, suas orelheiras pontudas e os enfeites pendurados feitos de lã em vários tons. Com o tempo, o chullo conquistou espaço na moda, tanto no Peru quanto no exterior, e não é mais incomum ver jovens e turistas usando-o na cabeça.
Cada região do Peru apresenta uma diversidade não apenas em cores, mas também em usos, que vão desde o uso diário até a identificação de classes sociais ou estado civil. O chullo é um reflexo da rica diversidade cultural do país.
Chullos na Passarela da Dior
O chullo transcendeu fronteiras e tornou-se internacionalmente reconhecido graças ao designer gibraltino John Galliano, que o apresentou em prestigiosas passarelas em março de 2002. Mais tarde, em 2005, ele o incluiu em sua coleção Outono/Inverno 2006 para a Dior. Embora figuras como a cantora francesa Manu Chao e o vocalista da banda Jamiroquai já tivessem usado o chullo antes de Galliano, seu uso era limitado no Peru, sendo procurado principalmente por turistas estrangeiros.
Ana Flores, comerciante que vende chullos importados de Huancayo há mais de 25 anos, reconhece a evolução do negócio. Vinda de uma família de artesãos, ela aprendeu os segredos da tecelagem tradicional ainda criança. Com o tempo, ela conseguiu fundar a empresa Sidrik’s e exportar seus produtos, incluindo os chullos, valorizados pelo uso de fibras naturais e pela capacidade de abrir as orelhas.
Titi Giulfo, designer comprometida com a modernização do chullo há mais de seis anos, o vê como uma peça de roupa com personalidade que pode ser usada por jovens. Suas criações apresentam cores e fibras naturais, com plumas, pompons, borlas, tranças na parte superior e wichis pendurados nas abas das orelhas, tudo feito à mão.
Em suma, o chullo evoluiu de uma peça de roupa funcional contra o frio para se tornar um emblema da identidade peruana e uma expressão da riqueza cultural dos Andes. Sua presença na moda internacional elevou seu status, embora em seu país de origem também tenha gradualmente conquistado a atenção que merece.
Onde são feitos os chullos?
O chullo é fabricado em todas as regiões do país devido ao grande crescimento comercial que impulsionou seu uso, resultando na existência de quase mil estilos diferentes de chullos. No entanto, os conhecedores da arte sabem que os melhores chullos peruanos são produzidos nas províncias que os produzem há centenas de anos.
Estas são as áreas mais altas dos Andes; ou seja, as punas de Huancavelica, Ayacucho, Puno e Cusco. Destas quatro, Puno é provavelmente a origem histórica desta vestimenta, embora Cusco atualmente ofereça a maior variedade e seleção, tanto em designs quanto em materiais, especialmente lã de alpaca e tingimentos naturais, que são os mais procurados no exterior. As comunidades cusquenhas de Quispicanchi, Lauramarca, Pisac, Tinta, Calcas, Sicuani, Ocongate e Ausangate são conhecidas pela qualidade e variedade de seus chullos, que variam desde os mais simples, feitos com uma técnica pré-hispânica chamada “circular”, até os mais ornamentados, tipicamente com botões, miçangas e fitas de lã.
Cusco é a região que oferece a maior variedade e seleção de chullos, tanto em designs quanto em materiais, especialmente lã de alpaca e tingimentos naturais.
Iconografia
“A iconografia dos chullos pode parecer simples, mas reflete as origens, as esperanças e os desejos de seu criador. Os pallays (desenhos complexos) são miniaturas de seu mundo e uma forma de se relacionar com suas crenças. Por meio deles, os tecelões se diferenciam uns dos outros, demonstrando suas habilidades e capacidades dentro de sua comunidade. Por exemplo, o chullo de Ocongate foi originalmente feito para conquistar uma esposa, comunicando às mulheres a experiência e a riqueza do homem que o teceu”, explica Rosie Barnes.
É importante valorizar essa tradição para preservá-la, que faz parte da identidade cultural do mundo andino, e servir como fonte de inspiração e pesquisa para as gerações futuras.
Dados:
Algo que sempre chama a atenção nos chullos é o tecido e os símbolos ou figuras ali exibidos, que nos permitem aprender sobre a origem da cidade que os fabricou. Entre eles, letras, cores suaves e fortes, símbolos, desenhos de auchenídeos, plantas e alguns indicam o estado civil da pessoa que os veste.
Os chullos vendidos em pontos turísticos são feitos à mão por artesãos locais. Os turistas são os que mais acolhem esta vestimenta, sempre a vestindo com grande entusiasmo.
Os chullos peruanos podem aquecer o mundo. O Peru exporta chullos feitos de diversos materiais para um total de 22 países, com México, França e Estados Unidos em primeiro lugar. Outros países que demandam essa vestimenta, amplamente utilizada em climas frios, incluem Colômbia, Costa Rica, Chile, Canadá, Itália, Alemanha, Japão, Dinamarca, Guiana Francesa, Holanda, Israel e Uruguai, entre outros.